Artigo publicado no caderno Opinião de O Popular em 01/07/2012
Praça Cívica e outros ambientes urbanos
Por: Ary Soares dos Santos (*)
Enfim, a Praça Cívica será
reurbanizada. Ótimo, o local que abriga boa parte da história de Goiânia, como
o nosso primeiro e único palácio, há muito fazia por merecer a atenção do poder
público. Com certeza, sua reforma também assimilará e será assimilada pelo
importante acervo em art decó instalado dentro e nas suas imediações.
Entretanto, dando coerência à uma
lei da física, a de que “toda ação provoca uma reação de igual ou maior
intensidade que a ação original”, nem todos estão vendo com bons olhos a
reforma. Uma das razões da reação é a supressão da área de estacionamento em
que aquela praça se transformou.
Os reclamantes, que possuem
carros e ali os estacionam, tem razão em reclamar. Atualmente quando muito,
remuneram com gorjetas os “flanelinhas” que apropriaram daquele espaço. Findo o
estacionamento, terão que fazer uso dos estacionamentos privados. Os
estacionamentos atuais, além de caros, são poucos. Obviamente que vão inflar
seus preços com o inicio das obras que se promete para breve.
Observador da cidade, e
testemunho dos conflitos que aqui se digladiam, vejo as informações
preliminares da dita reforma com preocupação e decepção. Preocupação por, em
minha avaliação preliminar, a reforma estar-se focando apenas no embelezamento
cênico do ambiente. Decepcionado por mais uma vez, perder-se a oportunidade de
ali e em outros ambientes, se instalar áreas de multiuso.
No presente caso, todo o ambiente
ao nível do solo que esta se projetando, como fontes, jardins e outros itens, poderia
ser conciliado há um projeto de engenharia mais arrojado. Ser a parte aparente
de um empreendimento maior.
Defendo que deveria ser contemplado,
dentre outros usos, a construção de vários níveis de estacionamento
subterrâneos. Com isso, poderia se suprimir todos os estacionamentos nas
laterais das ruas e avenidas daquela imediação. Destinando este espaço para
corredores exclusivos de transporte coletivos e ciclovias. Dar-se-ia uma grande
contribuição não somente ao transito, mas também à mobilidade urbana.
Imaginem ainda, quantos milhões
de litros dágua oriundos de chuvas poderiam ser estocados em um depósito abaixo
desse estacionamento subterrâneo? Água essa, que no primeiro momento, evitaria
a sobrecarga que atualmente tem provocado transtornos nos momentos de pico de
chuvas, visto que a impermeabilização não propicia seu necessário escoamento.
Água essa também, que com técnicas simples de filtragem e armazenamento poderia
ter usos diversos nos intervalos entre chuvas, como irrigação ou para limpeza
de ambientes, até mesmo uso em lava-jatos que ali também poderiam ser
instalados.
Antes que digam que não há
recursos financeiros para tal “megalomania”, sugiro que consultem nossos
empreendedores imobiliários sobre o custo que será a aquisição de um terreno e
a construção de estacionamentos como vem sendo pensado pelos defensores da
reforma. Acredito que empresas que lidam nesta área, teriam razoável interesse
em obter a concessão do Estado para administrar o subterrâneo da praça por um
determinado período, responsabilizando incluso, por implantar o projeto que
aqui provoco, desonerando o Governo deste custo.
Os usos dos espaços públicos
precisam urgentemente ser repensados. Defendo que temos que ser intransigente
na defesa de transporte público de qualidade, mas desconsiderar a necessidade
de espaços adequados para o transporte privado, longe de ser uma solução,
contribui tão somente para ampliar ainda mais o caos na cidade. Uma cidade pode
ser bonita, sem abdicar de administrar seus conflitos.
(*) Mestre em Geografia, Analista
Ambiental do IBAMA em Goiás.
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