terça-feira, 3 de julho de 2012


Artigo publicado no caderno Opinião de O Popular em 01/07/2012

Praça Cívica e outros ambientes urbanos
                                                         Por: Ary Soares dos Santos (*)


Enfim, a Praça Cívica será reurbanizada. Ótimo, o local que abriga boa parte da história de Goiânia, como o nosso primeiro e único palácio, há muito fazia por merecer a atenção do poder público. Com certeza, sua reforma também assimilará e será assimilada pelo importante acervo em art decó instalado dentro e nas suas imediações.

Entretanto, dando coerência à uma lei da física, a de que “toda ação provoca uma reação de igual ou maior intensidade que a ação original”, nem todos estão vendo com bons olhos a reforma. Uma das razões da reação é a supressão da área de estacionamento em que aquela praça se transformou.

Os reclamantes, que possuem carros e ali os estacionam, tem razão em reclamar. Atualmente quando muito, remuneram com gorjetas os “flanelinhas” que apropriaram daquele espaço. Findo o estacionamento, terão que fazer uso dos estacionamentos privados. Os estacionamentos atuais, além de caros, são poucos. Obviamente que vão inflar seus preços com o inicio das obras que se promete para breve.

Observador da cidade, e testemunho dos conflitos que aqui se digladiam, vejo as informações preliminares da dita reforma com preocupação e decepção. Preocupação por, em minha avaliação preliminar, a reforma estar-se focando apenas no embelezamento cênico do ambiente. Decepcionado por mais uma vez, perder-se a oportunidade de ali e em outros ambientes, se instalar áreas de multiuso.

No presente caso, todo o ambiente ao nível do solo que esta se projetando, como fontes, jardins e outros itens, poderia ser conciliado há um projeto de engenharia mais arrojado. Ser a parte aparente de um empreendimento maior.

Defendo que deveria ser contemplado, dentre outros usos, a construção de vários níveis de estacionamento subterrâneos. Com isso, poderia se suprimir todos os estacionamentos nas laterais das ruas e avenidas daquela imediação. Destinando este espaço para corredores exclusivos de transporte coletivos e ciclovias. Dar-se-ia uma grande contribuição não somente ao transito, mas também à mobilidade urbana.

Imaginem ainda, quantos milhões de litros dágua oriundos de chuvas poderiam ser estocados em um depósito abaixo desse estacionamento subterrâneo? Água essa, que no primeiro momento, evitaria a sobrecarga que atualmente tem provocado transtornos nos momentos de pico de chuvas, visto que a impermeabilização não propicia seu necessário escoamento. Água essa também, que com técnicas simples de filtragem e armazenamento poderia ter usos diversos nos intervalos entre chuvas, como irrigação ou para limpeza de ambientes, até mesmo uso em lava-jatos que ali também poderiam ser instalados.

Antes que digam que não há recursos financeiros para tal “megalomania”, sugiro que consultem nossos empreendedores imobiliários sobre o custo que será a aquisição de um terreno e a construção de estacionamentos como vem sendo pensado pelos defensores da reforma. Acredito que empresas que lidam nesta área, teriam razoável interesse em obter a concessão do Estado para administrar o subterrâneo da praça por um determinado período, responsabilizando incluso, por implantar o projeto que aqui provoco, desonerando o Governo deste custo.

Os usos dos espaços públicos precisam urgentemente ser repensados. Defendo que temos que ser intransigente na defesa de transporte público de qualidade, mas desconsiderar a necessidade de espaços adequados para o transporte privado, longe de ser uma solução, contribui tão somente para ampliar ainda mais o caos na cidade. Uma cidade pode ser bonita, sem abdicar de administrar seus conflitos.



(*) Mestre em Geografia, Analista Ambiental do IBAMA em Goiás.

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