Artigo publicado em 24.05.2012 no
Jornal O Hoje, pagina 4 (http://www.ohoje.com.br/pageflip/2029/index.html)
O Código Florestal e Milton Fries: dois fatos, fatos tristes!
Por: Ary Soares dos
Santos (*)
Em datas recentes, tivemos dois
fatos, dois fatos tristes, ambos com aparente distinção e isolados entre si.
Um, a votação do Código Florestal na Câmara Federal, outro, o falecimento do
produtor rural Milton Fries. Digo aparente, porque na prática tais fatos
mantiveram entre si, relevante conexão.
Segundo opiniões de alguns
senadores, a Câmara Federal desconsiderou “acordo de lideranças entre as casas”,
ao impor modificações no texto, que contava já com o aval do Governo. Ainda não
se sabe se haverão vetos por parte do Governo, o que é constitucionalmente
possível, obviamente, com perdas e ganhos políticos entre ambos, ainda difíceis
de serem mensurados. Conforme o dito popular, “quem viver verá”.
Milton Fries foi um dos grandes
empresário do agronegócio no estado de Goiás. Ele vinha dando provas aos que
ainda conflitam sobre o texto ideal para o futuro código, que é plenamente
possível produzir e preservar, isto, sob o prisma do código vigente. Suas
propriedades, no município de Mineiros, ano após ano, apresentam altos índices
de produtividade. Todas elas têm seguido rigidamente, os limites permitidos
pela legislação ambiental.
Alem de cumprir com suas
obrigações ambientais, Fries foi além, criou a RPPN Nascentes do Rio Araguaia,
unidade de conservação privada de elevada importância estratégica para o
Cerrado, que propicia a re-conexão do Parque Nacional das Emas com o Rio
Araguaia. Ali, ele foi além de suas obrigações legais, pois abriu mão do
direito de produzir em área que não era Reserva Legal e nem de Preservação
Permanente, aliás, parte dessa área, era anteriormente ocupada com plantio de
grãos e criação de gado. Nesta e em outras áreas que ele se propôs a preservar
e ou a melhorar o nível de qualidade ambiental, já foram plantadas milhares de
espécies nativas. São dezenas de nascentes protegidas, contribuindo para um
ambicioso projeto ambiental, o Corredor de Biodiversidade Rio Araguaia.
O Corredor de Biodiversidade Rio
Araguaia, iniciativa público privada, idealizado pelo Instituto Onça-Pintada,
IBAMA/GO, IDESA e ERTWATCH, tem como princípio a participação efetiva de
propriedades rurais produtivas. Fries era o patrono deste projeto.
Ele, Fries, foi um dos
proprietários do entorno do Parque das Emas que pactuaram com o IBAMA e o Ministério
Público Federal, o Programa de Regularização de Áreas de Reserva Legal e de Preservação
Permanente – PROLEGAL, iniciativa que propiciou a adequação ambiental de
dezenas de grandes propriedades rurais naquela região, e que vem,
gradativamente, melhorando a qualidade do entorno daquela unidade de
conservação.
Ainda não se sabe se, e quais, os
artigos do texto do código aprovado pela Câmara Federal serão vetados pela
Presidenta Dilma. Movimentações pró e contra tal medida, estão sendo
articuladas por movimentos situados ao centro, direita e esquerda do espectro
político e das representações sociais organizadas. Pena que pessoas como o
senhor Milton Fries não tenha sido convidados a externar suas opiniões ao
Governo e aos nossos parlamentares. “Conservacionistas” e “ruralistas” teriam
muito a ganhar com o exemplo de sustentabilidade ambiental e econômica que ele
orgulhosamente vinha expondo a quem visitava suas propriedades.
Dizem que: “a palavra convence,
mas o exemplo arrasta”. Espero que os exemplos que Milton Fries estabeleceu, sejam
mantidos por seus familiares e absorvidos por seus vizinhos e sociedade em geral. Ele deu provas
que é possível preservar e produzir. Isto, sem se aprisionar a utopia da
conservação total, e nem ser prisioneiro da hipocrisia da produção a qualquer
custo.
(*) Mestre em Geografia (UFG), Analista
Ambiental do IBAMA em Goiás.