Artigo publicado em O Popular em 17/06/2012 (http://www.opopular.com.br/cmlink/o-popular/editorias/opiniao/rio-20-1.165865)
Ary Soares dos Santos
Rio+20
17 de junho de 2012 (domingo)
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
Rio+20, em andamento na cidade do Rio de Janeiro, atrai a atenção do
mundo. Não é para menos. Questões globais que têm pautado outras
conferências similares serão, dessa vez no Brasil, novamente dissecadas.
Possivelmente, assim como em outras conferências patrocinadas pela ONU,
esta terminará com declarações de governos, de que fizeram o que
podiam, e com manifestações de cidadãos, de que faltou vontade política
para resolver questões que colocam a Terra na rota de um fim trágico.
Conciliar interesses contraditórios em um mundo que ciclicamente tem
vivido autos e baixos em sua economia tem se mostrado tarefa impossível
de ser alcançada. Economia que se apresenta como mola-mestra que
impulsiona e tenciona governos e cidadãos mundo afora. Quando em alta,
solapa recursos naturais de nações que baseiam sua sobrevivência na
exportação extrativista, na pecuária e agricultura. Quando em baixa – a
exemplo da Europa atualmente – arrasta as mesmas economias que a
alimenta para sua mesma crise, pois reduz suas compras, e força o
desemprego e seus efeitos deletérios. É o modelo econômico vigente.
Sempre repetitivo, por mais dinâmico que seja.
Temas globais, como mudanças climáticas – para ficar apenas no mais
contundente e polêmico –, devem pautar a maior parte dos debates. Oxalá
termine a Rio+20 com acordos válidos e programáticos entre as nações
participantes. Grandes secas e catastróficas enchentes, que assolam
campo e cidades ano após ano, estão a requerer mais do que
fundamentações científicas. Estão a exigir decisões e ações
governamentais.
Em outra frente, não devemos nos desvincular de uma grande máxima:
pensar globalmente, agir localmente. Por mais que nos preocupam os
problemas do mundo, é preciso que vivamos o ambiente que habitamos. Como
nos esquecermos de doenças como a dengue, que afetam milhares de
pessoas em nossa cidade a cada ano? Como deixar de fazermos uma
autocrítica sobre nosso comportamento, muitas vezes omisso e leniente
sobre a questão urbana?
Resgato a questão da dengue com o objetivo de expor nossas
contradições. Queremos e merecemos um ambiente harmonioso, de
preferência límpido e, se possível, que exale bom cheiro. E nós,
cidadãos comuns, muitas vezes não estamos fazendo nossa parte. A dengue é
prova disso. Lixo descartado em locais impróprios; quintais com ou sem
piscinas maus cuidados e por aí vai. Podemos elencar uma série de
“pequenos pecados” que cometemos no dia a dia. Geralmente culpamos os
governantes. É mais cômodo, nos exime ou redime, em parte, nossa culpa.
Sim, queremos e devemos lutar por um mundo melhor. Mas primeiro é
preciso que contribuamos para termos uma cidade melhor. Sucesso para a
Rio+20: isso podemos desejar. Se queremos qualidade de vida em nossas
cidades, precisamos participar.
Ary Soares dos Santos é mestre em Geografia e analista ambiental do Ibama em Goiás. aryssantos.goiania@gmail.com
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